Há sete anos, tivemos uma menina que decidimos entregá-la aos cuidados de um casal com quem temos parentesco. Alí ela pode receber todo o cuidado e atenção, além do carinho que nós nunca poderíamos dar a ela diretamente. Esse ano ela se encontra cursando o segundo ano da escola primária, e vem tendo um bom desempenho escolar. Até que chegou na casa do casal um oficial do Exército exigindo um registro que comprovasse que a menina era filha deles, com a história de que a menina era filha de um guerrilheiro. Em seguida todas as ameaças possíveis vieram, entre as quais a ameaça de tirar a criança da família do qual ela cresceu, tirar do bem-estar do seu lar, e colocar ambos numa prisão por uma série de crimes que não cometeram, e até mesmo, a ameaça de serem mortos a qualquer momento.
Tudo para fornecer-lhes informações sobre onde eles
poderiam nos encontrar para nos capiturar ou matar. Ou, tínhamos de aceitar um
acordo com o Exército de nos entregarmos na qualidade de desmobilizados e reintegrados
(como eles costumam chamar os lutadores sociais desertores e traidores). A
senhora teve de ser levada com nossa filha para conseguir um refúgio em outro
lugar. A menina perde um ano de estudos. A menina, ao que parece, ao passar por
todos estes transtornos está “pagando pelo crime violento” que só existe na
mente dos “hérois da nação”, que trabalham para o criminoso senhor Alejandro Eder da Agência Colombiana
para “Reintegração”.
Se nós guerrilheiros decidirmos não trazer filhos para o
mundo, somos considerado desumanos. O que podemos dizer então de quem se
encarrega de perseguir desse modo criaturas inocentes?
Montanhas da Colômbia, 17
ago 2014.
— Por
Robert e Karina. Guerrilheiros do Comando Conjunto Adán Izquierdo, traduzido por Bruno Torres.